Confira a entrevista do Mês da Mulher sobre os desafios da carreira de tecnologia com Samilla Macedo, engenheira de software da Revelo.
1. Como foi sua formação na área de tecnologia e como descobriu sua vocação para trabalhar nessa área?
Minha paixão por computadores iniciou quando eu tinha 15 anos. Meu pai precisava de alguém para ensiná-lo a mexer no computador, mas não tinha tempo para frequentar cursos de informática convencionais. Então, ele acabou me inscrevendo no curso.
Depois disso, meu interesse só cresceu. Em seguida, comecei a ajudar a formatar e consertar os computadores da família, me tornei a própria “garota que conserta a impressora”.
Mais tarde, após prestar o Enem, vi a oportunidade de estudar Engenharia na Universidade Federal do ABC. Logo, me apaixonei pela grade curricular que se difere das outras universidades e apresenta uma proposta interdisciplinar.
Por ser um curso interdisciplinar, cursei matérias básicas de programação logo nos primeiros anos e me apaixonei. Essas eram as matérias que eu mais me dedicava e tinha prazer em aprender.
Logo depois, entrei para uma equipe de competição em Robótica e fui me aprofundando cada vez mais na área de tecnologia.
2. Quais desafios enfrentou no início da sua carreira?
Apesar de gostar muito da área de tecnologia, sempre sentia mais dificuldades, por não ter o mesmo background de outras pessoas que estavam no mesmo curso.
Percebi que a maioria das pessoas que se destacava, havia feito cursos técnicos de informática, elétrica ou estudado esses assuntos no Ensino Médio. Eu, como estudante de escola pública, infelizmente não tive essa oportunidade.
Para superar esse obstáculo, comecei a me empenhar em projetos extracurriculares e projetos pessoais.
Sempre gostei muito da possibilidade de aplicar meus conhecimentos para automatizar processos do dia a dia. Por isso, fiz muitos projetos de automatização residencial em casa e esse passou a ser meu hobby.
Esses projetos extracurriculares me levaram ao meu primeiro estágio com programação em uma startup pequena.
No início, foi um choque perceber haverem ferramentas que eu não conhecia e que tinha dificuldades básicas. Logo, precisei voltar dois passos atrás, estudando muito para suprir essas defasagens.
3. O que poderia ser feito para a inclusão de mais profissionais mulheres na área de tecnologia?
Durante os últimos anos, vi boas iniciativas inclusivas que investem na formação de mulheres em tecnologia, por exemplo, o projeto Laboratoria e o Programaria.
Assim como, nas universidades também estão se formando coletivos femininos para incentivar e apoiar mulheres que desejam seguir a carreira de TI.
Sobretudo, acredito que a inclusão deve começar no processo seletivo.
Na Revelo, por exemplo, utilizamos nossa própria plataforma para contratação e focamos sempre em trazer um número maior de candidatas mulheres para o topo do funil de contratação.
Além disso, também é importante a presença de uma entrevistadora durante a seleção. Pois, possibilita tanto que a candidata sinta-se mais confortável em expor experiências e conhecimentos, quanto melhora o viés inconsciente de gênero.
4. Em termos técnicos, quais tendências estarão em alta para área de tech em 2021?
Em 2020, a crise da Covid-19 potencializou o uso de dispositivos móveis para permitir a proximidade virtual entre as pessoas. Com isso, aumentou muito o uso de plataformas web e aplicativos mobile.
O framework VueJS, usado para criação de interfaces com o usuário, é um dos mais populares entre os desenvolvedores e tem se destacado mantendo a comunidade ativa.
No início do ano passado, lançou a versão 3 que promete otimizações e recursos que facilitam o desenvolvimento de aplicações.
A tecnologia AMP (Accelerated Mobile Pages), também deve ser uma tendência, por que permite que as páginas Web sejam carregadas rapidamente em dispositivos móveis e consumindo menos dados, possibilitando uma melhor experiência do usuário.
5. O que mais te motiva a trabalhar na área de TI?
Gosto de aprender coisas novas e sinto que a carreira em TI te desafia a todo momento a fazer aprender.
Trabalhando com TI você aprende que nada tem uma única resposta, e todos os problemas podem ser resolvidos de inúmeras maneiras. O que abre espaço para muita criatividade.
6. Quais são as linguagens de programação que você prefere e por quê?
Apesar de ter aprendido a programar em Java, minha linguagem preferida é Ruby. A linguagem aliada ao framework Rails permite que em poucas horas a plataforma “crie vida”. Em outras palavras, possibilita uma grande entrega de valor em pouco tempo.
Recentemente, tenho focado bastante em melhorar meus conhecimentos de front-end, e com isso, tenho gostado cada vez mais de Javascript. A linguagem é bastante versátil e usada tanto no back-end quanto em front-end em aplicações Web.
7. Quais os pontos fortes que as mulheres podem trazer para a área de TI?
Como já disse anteriormente, os problemas de tecnologia não possuem uma única solução. Nesse sentido, trazer diversidade para o time é enriquecer as discussões para resolução de problemas.
Uma pesquisa feita pela Harvard Business aponta que simplesmente reunir uma mistura de pessoas não garante alto desempenho, mas que ter liderança inclusiva garante que todos os membros da equipe se sintam tratados com respeito e justiça.
Além disso, as equipes com líderes inclusivos têm 17% mais probabilidade de relatar que têm alto desempenho. Os funcionários se sentem mais valorizados, confiantes e inspirados.
8. Quais conselhos você daria para as mulheres que estão começando na área de tecnologia?
Ao estudar, procure conteúdos feitos por mulheres. Além de apoiar o trabalho dessas profissionais, você poderá se inspirar em exemplos reais e tê-las como referência técnica.
Posso citar, a desenvolvedora Sandi Metz, muito conhecida na comunidade Ruby, palestrante e autora de vários livros.
Procure uma mentora. Nada melhor que alguém experiente e que já passou por esse caminho para guiá-la. Acredite, há muitas mulheres interessadas em dispor do seu tempo para impulsionar outras mulheres.
Estude. Aproveite o início de carreira para formar uma base sólida de conhecimento em programação.
Organize uma rotina de estudos, mas não se esqueça que manter uma rotina saudável é melhor que organizar uma rotina com muitas horas de estudo. Uma vez que, você não conseguirá cumprir por muito tempo.
9. Quais conselhos você daria para empresas que desejam levar mais diversidade para a área de tecnologia?
Acredito que o primeiro passo seja arrumar a bagunça dentro de casa. Já vi muitas empresas enfatizarem no momento de contratação que possuem diversidade de gênero, mas fazem pouco para tornar o ambiente saudável e igualitário.
Um estudo feito em 2019 pela Revelo mostrou que, em média, candidatas na área de tecnologia recebem 15,8% a menos do que os homens. Será que isso acontece nas empresas?
Além disso, um estudo Softex apontou em 2017, que as vagas de Gerente de TI são ocupadas em 76,3% pelos homens. A discrepância aumenta mais nas vagas de Diretores de TI, pois 87,2% são ocupadas por homens.
Será que as mulheres se vêem igualmente representadas em cargos de liderança? Quais oportunidades de crescimento elas podem encontrar nas empresas?
10. Qual seria uma mensagem de incentivo para as mulheres que desejam trabalhar com TI?
O setor de tecnologia é um dos que mais cresce no Brasil. Uma pesquisa feita pela Revelo mostra que as vagas para desenvolvedores e outros profissionais de TI subiram 25% em 2020.
Além disso, há uma crescente preocupação das empresas em reduzir a desigualdade entre homens e mulheres.
Não é um caminho fácil, no entanto você encontrará muitas aliadas para te ajudar. Além disso, quanto mais mulheres optarem por seguir esse caminho, mais forte essa rede ficará. Vamos juntas?
Quer entrar na área de tecnologia?
O Revelo UP e a escola de programação Ironhack, se juntaram para oferecer bolsas de estudo para mulheres que desejam fazer cursos na área de tecnologia. Aproveite e participe da iniciativa.