Este artigo foi escrito por Patrícia Gonçalves em parceria com Revelo UP, o programa de financiamento de cursos em tecnologia da Revelo.
A experiência do usuário (UX) de mãos dadas com a tecnologia.
Tecnologia é “qualquer técnica moderna e complexa“, também se enquadra em “teoria geral e/ou estudo sistemático sobre técnicas, processos, métodos, meios e instrumentos de um ou mais ofícios ou domínios da atividade humana” .
Por fim, pode ser uma “técnica ou conjunto de técnicas de um domínio particular“, segundo o Dicionário de português licenciado para Oxford University Press.
Quando ouvimos essa palavra um sentimento de imediato é acionado, e pensamos: algo será melhorado ou teremos uma inovação para melhorar o nosso dia a dia.
No entanto, quando unimos tecnologia e experiência do usuário, precisamos lembrar que: apesar de muitas dessas novidades serem construídas com o propósito de inovar, podem esconder por trás delas uma triste realidade.
Estou falando dos diversos vieses inconscientes carregados por quem programa softwares, aplicativos, chatbots, entre outros produtos.
É impossível, pelo menos na maioria das vezes, deixar de lado o pensamento humano e, infelizmente, ele é carregado de preconceitos que ainda não foram excluídos da nossa sociedade.
Contra fatos e dados não há argumentos
Em diversos momentos, nos questionamos: quem projeta ou cria o que estou usando?
Ao longo da nossa trajetória, lidamos com experiências variadas, mas nunca paramos para nos questionar se quem está do outro lado realmente pensou na pluralidade da sociedade.
Por isso, estamos munidas de diversas pesquisas que complementam essa reflexão e sobre o impacto da equidade na construção de produtos. Confira:
- Segundo a pesquisa Panorama UX 2020 feita pela ZOLY, apenas 15% das pessoas são pardas e 5% são negras na área de UX (experiência do usuário). Isso mostra como, apesar de sermos mais de 50% da população brasileira, poucas pessoas negras conseguem uma boa capacitação, vagas e frequentam espaços que promovem eventos da área.
- A Ernst & Young fez um estudo em 2019 e registrou: as empresas que tiveram 30% de diversidade de gênero em contratações—e mais de 20% no nível sênior nas equipes—apresentaram melhores resultados financeiros na comparação com as demais.
- A PretaLab, junto à organização Olabi, levantou que apenas 20% das pessoas entrevistadas conhecem projetos envolvendo mulheres negras e indígenas com tecnologia.
- Apesar de 25% da população brasileira ser formada por pessoas com deficiência, somente 1% das carteiras assinadas no país é composta por esse grupo, segundo a Microsoft.
- De acordo com a pesquisa Expectativas e Percepções sobre o Mercado de Trabalho para PCDs, realizada pela consultoria i.Social, pessoas com algum tipo de deficiência encontram duas vezes mais dificuldades para entrar no mercado do que as que não têm deficiência.
É por todos esses motivos que é importante mudar esses vieses na construção de produtos digitais.
Como mudar vieses inconscientes na hora de construir um produto
Sabemos que produtos são criados por pessoas que vivenciaram diversos tipos de trajetórias.
Entretanto, também entendemos que essas muitas pessoa possuem vivências parecidas entre si (homens, brancos, de classes mais altas, cis, heterossexuais), já que majoritariamente outros grupos não foram contratados.
E aí, você vai me dizer: como eu mudo meus pensamentos? Eu cresci com eles e fazem parte de mim, como trago essas realidades para o meu dia a dia?
A saída principal é buscar o conhecimento individualmente, ter disposição para reconhecer e passar por um processo que eu considero extremamente necessário, e precisa ser rápido: revisitar seus pensamentos preconceituosos, ter escuta ativa nos processos de estudo e sobretudo se autoconhecer.
Além disso, trazer o conhecimento pra junto de você. O Revelo UP, que está patrocinando este artigo, te ajuda nesse caminho.
Com financiamento para cursos nas escolas mais relevantes do mercado de tecnologia, o programa abre possibilidades para você dar o próximo passo da sua carreira.
“É preciso valorizar vivências de pessoas negras, LGBTQIA+, com deficiência, mulheres, mães, periféricas, entre outras, como capital humano, ou seja, diferentes olhares enriquecem não só culturalmente, mas financeiramente a amplitude do seu produto”, como digo na reflexão sobre Equidade social como resultados financeiros nas áreas de produto e tecnologia.
Isso é necessário para que, por exemplo, uma Inteligência Artificial não sofra assédio ao tentar ajudar as pessoas.
Foi preciso que funcionários que trabalham projetando essa IA percebessem ser necessário programar respostas contra o assédio para melhorar a experiência e combater um problema da sociedade ao mesmo tempo.
Entenda o assunto no vídeo abaixo:
Algoritmos e IA
Também precisamos trazer novas referências quando o assunto é a criação de algoritmos, para que Joy Boulamwini não precise mais combater o conceito que ela chama de “olhar codificado”, quando quem constrói sistemas, só acredita que determinada categoria de público vai usá-lo.
Joy trabalhava com um software de reconhecimento facial quando registrou um problema: o software não reconhecia seu rosto porque as pessoas que codificaram o algoritmo não o incorporaram para reconhecer uma ampla gama de tons de pele e de estruturas faciais.
Linguagem simples e acessibilidade
É essencial promover a linguagem simples e acessibilidade ampliando o uso para pessoas com deficiência e de fato garantindo o que chamamos de inclusão, pois isso ainda não é real.
“Acessibilidade é encurtar distâncias. Quem está excluído precisa de formas de acesso para se ver dentro. Eu construo essa ponte, se ele conseguir atravessar ou não, vai dizer se ele foi incluído”, Aline Santos, especialista em comunicação acessível e educação inclusiva.
Nem 1% dos sites no Brasil são acessíveis para PCDs. “Mesmo com a existência de lei que determina a acessibilidade digital, mais de 14 milhões de portais ativos no país possuem problemas estruturais que dificultam a navegação”, segundo a Galileu.
E nesse momento, é importante lembrar que acessibilidade não é só aquela que é permanente, mas também algumas temporárias. Por exemplo, pessoas autistas, com dedos grandes (o que dificulta o clique via celular, por exemplo), que possuem perda de mobilidade temporária, usam óculos, entre outras.
Um novo relatório indica que 99% dos sites que estão ativos no Brasil não são acessíveis para pessoas com deficiência… (revistagalileu.globo.com)
É fundamental que sejam discutidas novas formas de “encurtar distâncias“, entendendo o que falta pra que haja um acesso “universal” aos produtos que criamos.
Isso inclui não só o acesso à internet, mas como construímos o passo a passo de um app, o tamanho dele considerando a memória dos celulares, como escrevemos para facilitar a interpretação das palavras e até mesmo os componentes dos aplicativos.
No meu dia a dia, possibilito a inclusão para pessoas usuárias do produto em que eu trabalho, o entendimento e inclusão do que escrevo como UX Writer.
Pra mim, não é necessário muito para isso. Posso trocar: “bem-vindo(a)” por “que bom ter você por aqui”; “nos envie uma selfie” por “envie uma foto do seu rosto”; “certifique-se de que as informações estão legíveis” por “verifique se as informações não ficaram borradas”.
4 ações para você mudar seus vieses inconscientes agora
1. Ouça novas histórias
Sabe aquele ditado que diz: “a história sempre tem dois lados”? Eu diria que ela tem muito mais do que isso.
Somos seres múltiplos, e de ponta a ponta do Brasil, cada perspectiva para olhar um problema, encontrar uma solução ou criar novas alternativas é bem diferente. Inclusive, isso é bem mais do que empatia, é sobre alteridade.
Um dos especialistas em UX e pioneiro do design centrado no ser humano, Don Norman, levanta isso no texto “Por que eu não acredito no design empático”.
“Especialistas chegando e dizendo às pessoas o que fazer também é muito paternalista e não funciona. Os especialistas não entendem a cultura local.
Eles não entendem as habilidades e necessidades reais das pessoas que estão tentando ajudar. Mas existem pessoas realmente criativas em cada comunidade, e se você for lá, sempre encontrará pessoas que já têm soluções para os problemas que estão enfrentando”.
2. Saia da sua zona de conforto
Quantas vezes você viu uma persona (personagem fictício que representa um ou mais usuários do seu produto) ou trabalhador como pessoas com deficiência, periféricas, LGBTQ+, negras, mulheres, entre outros grupos minoritários?
Se você viu, ou trabalhou com uma delas, imaginou que elas poderiam estar na mesa ao seu lado, ou em uma reunião com os seus pares, sem um olhar preconceituoso sobre a capacidade daquela pessoa?
“Descolonizar o pensamento é repensar nossas referências, entendendo que muito do que é valorizado pela nossa sociedade hoje segue uma lógica eurocêntrica que ignora todos os outros saberes do mundo.
É entender que nem todo conhecimento nasce na academia ou no mundo corporativo, valorizar a escuta e a transmissão oral de tecnologias humanas, buscar referências não brancas, ampliar sua visão de mundo”, de acordo com a 65|10
Sair desse lugar confortável é confrontar tudo que você já viu e ouviu até agora. É preciso ter disposição, assim como essas pessoas precisam ter o tempo todo ao enfrentar barreiras para entrar no mercado.
3. Faça ou consulte o “censo” da sua empresa
Aja! Quando começar a melhorar esses novos olhares, pesquise sobre como você pode ser um canal e espalhar a mensagem.
Procure o time de recursos humanos do seu local de trabalho para entender qual o cenário atual, quais grupos minoritários ocupam espaços, apoie e faça mudanças para transformar o negócio e as pessoas.
Você não precisa agir de forma solitária, é necessário convocar todos para as mudanças, sobretudo alertar que inclusão também é trazer mais uso e lucro para qualquer empresa que abrange discussões e modificações da sociedade.
4. Encontre ou conheça uma comunidade
O papel das comunidades no mercado de UX e tecnologia tem sido promover justamente o encontro de pessoas que pensam ou fazem parte de um grupo e/ou pensamentos em comum.
Praticamente qualquer assunto ou área tem esses grupos criados, como a UX para Minas Pretas, Mulheres de Produto, PretUX, {reprograma}, UX Collective Editors, entre outras.
Quer ingressar na área de UX?
No Revelo UP, são oferecidos diversos cursos nas áreas de UX, por exemplo, UX Design, Product Design, UX Writing, Liderança em Design, UX Research, UX Strategy, entre outras opções na área de tecnologia.
E, o melhor! Se aprovado no programa, poderá pagar o financiamento somente após a conclusão do curso, em até 24x no boleto.
Inscreva-se hoje mesmo no Revelo UP!