Com a onipresença da internet nas nossas vidas, nossos dados pessoais estão cada vez mais sob a tutela de grandes empresas de tecnologia. Cada clique de “Aceitar Cookies” é um voto de confiança na gestão segura desses dados, mas nem todos querem continuar utilizando a internet dessa forma. Por isso, alguns cientistas da computação idealizaram a Web3.
Neste post, vamos explicar o que é a Web3, como ela funciona e quem criou esse termo. Leia até o final para ficar por dentro do assunto, que é um dos mais falados no ramo da tecnologia hoje.
O que é Web3?
A Web3 é uma proposta de evolução da internet que promete descentralização, transparência e segurança no ambiente virtual, por meio da utilização de inteligência artificial e tecnologia Blockchain.
No novo modelo da Web, a comunicação ocorreria somente em canais criptografados e com identidades pseudônimas como endpoints.
As informações que os usuários considerarem públicas seriam compartilhadas publicamente, enquanto as de interesse restrito serão colocadas em um livro de registro público da rede, chamado de “consensus-ledger”. As informações privadas serão mantidas em segredo.
Além disso, os sites seriam financiados pelos próprios usuários, a fim de evitar centralização dos serviços. As operações seriam realizadas nativamente, por meio de tokens e criptomoedas, sem a mediação de bancos ou instituições financeiras.
O cientista de computação Gavin Wood, criador do conceito, definiu esse modelo da seguinte forma:
“Web3 é realmente uma visão alternativa da web, onde os serviços que usamos não são hospedados por uma única empresa provedora de serviços, mas são coisas puramente algorítmicas que são, de certa forma, hospedadas por todos. A ideia é que todos os participantes contribuam com uma pequena fatia do serviço final.”
Quem criou o termo Web3?
O termo foi criado pelo cientista da computação e cofundador da Ethereum Gavin Wood, em 2014, referindo-se a um modelo descentralizado de internet com base em Blockchain.
O autor também criou a Web3 Foundation, em 2017, para fomentar o estabelecimento do novo ecossistema digital.
No entanto, em 2001, surgiu também o termo Web 3.0, que às vezes é confundido com o Web3. A Web 3.0, também chamada de Web Semântica, foi idealizada por Tim Berners Lee, James Hendler e Ora Lassila.
A Web Semântica funciona com base na linguagem XML2 (eXtensible Markup Language), que tem a capacidade de utilizar categorias semânticas nos dados a serem exibidos. Assim, quando o usuário faz uma pesquisa, o sistema leva em conta o conteúdo semântico e os significados contextuais.
Os principais objetivos da Web 3.0 são a facilidade de navegação e acesso à informação, maior interligação entre dispositivos e criação de conteúdos personalizados.
Quais são as fases da Web?
Segundo Gavin Wood, a história da internet pode ser dividida em três fases, sendo que a terceira ainda não foi totalmente estabelecida.
Web1: estática e apenas para leitura
A Web1 é a primeira fase da internet, compreendida entre 1991 e 2004. Nessa época, os sites eram estáticos e permitiam apenas a leitura de conteúdos. Os usuários eram agentes predominantemente passivos diante dos produtores de conteúdo e empresas de tecnologia.
Também não havia regulamentações para navegar na Web e o espaço virtual era uma “terra sem lei”.
Web2: interativa, viável para leitura e escrita
A partir de 2004, os sites se tornaram mais dinâmicos, com a disponibilidade de vários recursos e mídias. Os usuários também ficaram mais ativos, com a possibilidade de compartilharem informações, produzirem conteúdos e comentarem nas publicações de grandes sites.
Na Web2, as redes sociais, os chats e os fóruns se popularizaram. No entanto, a dinâmica favoreceu a centralização dos serviços em volta de grandes empresas de tecnologia, como Amazon, Google, Microsoft e Meta (antiga Facebook).
Essas companhias passaram a administrar uma grande quantidade de dados dos usuários, o que é o principal problema para os defensores da terceira geração da Web.
“A palavra-chave aqui é confiança. Estamos tendo que confiar nas pessoas por trás dos serviços. Estamos tendo que confiar nos donos das empresas que executam o serviço”, afirmou Gavin Wood em uma entrevista na CNBC.
Outra questão apontada pelo cientista é o risco de indisponibilidade dos serviços por conta da centralização:
“O grande problema com isso é… mais ou menos a mesma coisa que colocar todos os ovos na mesma cesta, se algo der errado com um desses serviços, você sabe, o serviço de repente fica indisponível para um monte de gente.”
Web2 x Web3
A grande diferença das duas é a descentralização presente na terceira geração da Web, graças à tecnologia de blockchains, criptomoedas e NFT (tokens não fungíveis, usados para propriedades digitais).
Atualmente, estamos vivendo a segunda fase da internet, mas alguns elementos da terceira fase estão ganhando espaço aos poucos, prometendo uma transição no futuro próximo. De fato, vem surgindo no mercado alguns aplicativos e plataformas que cumprem as premissas da Web3.
Como funciona a Web3?
Na Web3, os usuários não apenas lêem e escrevem conteúdos na internet como também têm a posse de conteúdos e produtos digitais e controlam os dados gerados por eles.
Não há necessidade de exigir permissões para acessar plataformas; os usuários possuem identidades digitais descentralizadas. E o sistema preza pela privacidade, democracia na gestão dos serviços online e resistência à censura.
Privacidade
Escândalos como o da Cambridge Analytica despertaram entre os usuários desconfiança em relação às promessas de proteção de privacidade das grandes empresas de tecnologia.
Para manter o sigilo dos dados dos usuários, o novo modelo de Web permite o compartilhamento de dados de um ponto para outro, sem intermediários, por meio da tecnologia blockchain.
Blockchain
A blockchain é um banco de dados totalmente transparente e descentralizado, que registra as transações dos usuários e não é controlado por nenhuma autoridade, como bancos, governos ou empresas.
Um exemplo de blockchain é a rede do Bitcoin, que guarda informações como quantidade de criptomoedas transferidas entre os usuários, identificação (endereço digital) dos envolvidos e data e hora das transações.
A proposta da terceira geração da Web é utilizar essa tecnologia para compartilhar todos os dados na Web, de forma descentralizada e segura.
Descentralização
Como já mencionamos, uma das principais características da Web3 é a descentralização.
Evitar o controle das grandes empresas de tecnologia como a Google, Amazon, Twitter e Meta parece ser impossível nos dias de hoje para quem quiser continuar conectado.
Mas a intenção dos desenvolvedores entusiastas dessa nova geração da Web é transformar os usuários em mini prioritários da internet, os protagonistas principais do compartilhamento de dados, que vão interagir entre si de forma direta.
Metaverso
Outro aspecto do futuro da Web é o metaverso. Na terceira geração da internet, a navegação é muito mais imersiva e sensorial. A criação de espaços digitais onde as pessoas interagem entre si por meio de avatares e vivenciam experiências nativas do mundo virtual será cada vez mais comum.
O CEO da Meta, Mark Zuckerberg, definiu o metaverso da seguinte forma:
“A qualidade definidora do metaverso será um sentimento de presença – como se você estivesse com outra pessoa em outro lugar… No metaverso, você será capaz de fazer quase tudo o que imaginar – ficar junto de amigos e familiares, trabalhar, aprender, jogar, comprar, criar – assim como viver experiências completamente novas que não se encaixam em como pensamos computadores ou telefones hoje”
Leia também:
– Desvendando o Manifesto Ágil: por que ele foi assinado e qual sua importância
– RH 4.0: o que é, importância, vantagens e como adotar
– ATS: o que é, e como usar para melhorar seu recrutamento
Como acessar a Web3?
Como falamos mais cedo, já existem algumas plataformas e aplicativos adaptados para o novo modelo de Web, com funcionamento baseado em Blockchain. Mas como acessar esses sistemas?
Todas as transações no Blockchain usam moedas digitais (criptomoedas) e o acesso a qualquer página tem como ponto principal uma carteira de criptomoedas – um endereço de 42 caracteres.
Por isso, é preciso investir em criptomoedas e comprar NFTs em marketplaces como OpenSea, MetaMask ou Rarible. E para acessar esses marketplaces basta utilizar uma extensão no navegador ou baixar um aplicativo para interagir com os apps descentralizados (dApps).
Como contratar um desenvolvedor Web3?
Contratar um desenvolvedor Web3 pode ser um desafio para os recrutadores. Isso porque, além das competências técnicas que o profissional de Web3 precisa ter, é necessário que o candidato tenha hard skills e soft skills compatíveis com a empresa e com o cargo.
Isso vale não apenas para a contratação de um desenvolvedor Web3. Para a contratação de desenvolvedor back-end e desenvolvedor front-end também é importante que o candidato tenha hard skills e soft skills.
Mas você sabe a diferença entre elas?
Hard skills podem ser definidas como as habilidades mais técnicas exigidas ao cargo. No caso de um desenvolvedor Web3 as hard skills mais importantes são:
– domínio sobre Tokens, NFTs e criptomoedas;
– domínio de inglês;
– conhecimento de plataformas Blockchain.
E as soft skills? No caso do desenvolvedor Web3, as soft skills ideais seriam as seguintes:
– boa comunicação;
– capacidade de liderança;
– capacidade de ser multitarefa;
– habilidade para gerenciar tempo;
– raciocínio lógico e com capacidade para resolver problemas;
– boa organização;
– ser proativo e saber trabalhar em equipe.
Com essas características mapeadas, o recrutador e também terão mais clareza para a contratação de um desenvolvedor Web3.
Como se tornar um desenvolvedor Web3?
Para se profissionalizar na área, o ideal é começar com uma graduação em Ciência da Computação, Engenharia de Software ou Análise e Desenvolvimento de Sistemas ou fazer um curso técnico de programação.
Depois, o profissional deve estudar sobre Tokens, NFTs e criptomoedas, e adquirir experiência com essas ferramentas.
Há também algumas comunidades na Internet que podem te ajudar a se ambientar na Web3, como Web3dev e Fakeworms Studio.
Além disso, vale a pena conhecer o experimento de $MELK, um projeto educativo que doa tokens sem valores monetários para os estudantes aprenderem a trabalhar com a Web3.
Como conseguir um emprego de desenvolvedor Web3?
Conforme a Web3 vai ganhando corpo na atualidade, as oportunidades de emprego no novo modelo de Internet vão se tornando mais frequentes.
Geralmente, as vagas são para projetos que utilizam tecnologia de Blockchain, em DAOs (Organizações Autônomas Descentralizadas) e StartUps, a maioria internacionais. Por isso, é importantíssimo dominar o Inglês.
Você pode acompanhar as ofertas de emprego na Cryptocurrency Jobs, DAOMatch, The Web3 Talent Directory e na Revelo.
Web3 e Crypto
As criptomoedas são peça-chave do futuro da Web, porque elas são utilizadas como moedas de troca na tecnologia Blockchain. Na plataforma Ethereum, por exemplo, os usuários só podem assinar contratos e realizar a mineração de transações publicadas no Blockchain pagando em Ether, a moeda do Ethereum.
As criptomoedas ou criptoativos descentralizam as transações comerciais e permitem a contratação direta de diversos serviços, como computação, armazenamento de dados, hospedagem, candidatura para empregos, comunicação em tempo real, entre outros.
Além da Ether e da famosa Bitcoin, as principais criptomoedas do mercado são a Tether, USD Coin, Binance Coin, Binace USD, Ripple, Cardano, Solana, Dogecoin, Polkadot, Kusama e Shiba Inu.
É importante notar que três dessas criptomoedas – Ethereum, Polkadot e Kusama – foram criadas com a ajuda de Gavin Wood.
Como ela afeta o cotidiano?
Aos poucos, a terceira geração da Web está ganhando forma e influenciando a criação de novos programas e aplicativos. Até mesmo as Big Techs, como o Google, Twitter e Meta, que teoricamente seriam prejudicadas com a descentralização, estão investindo na implantação do novo modelo de Web.
Essas três grandes empresas já estão dando passos em direção à incorporação de criptomoedas e tecnologia Blockchain.
A Meta, por exemplo, definiu a própria companhia como um “serviço de rede social online que permite transações financeiras e troca de moeda digital, moeda virtual, criptomoeda, ativos digitais e blockchain, ativos digitalizados, tokens digitais, tokens de criptografia e ativos descentralizados”.
Segundo o diretor da Easy Crypto Brasil, André Sprone, esse interesse das Big Techs é um movimento natural: “Inovação é algo que os investidores das empresas de tech valorizam muito e nenhuma empresa quer correr o risco de ficar de fora de algo com potencial para revolucionar o mundo”.
Críticas à Web3
A proposta da nova Web parece um sonho, não é? As promessas de maior transparência e segurança dos dados são bem atrativas, mas muitos especialistas têm levantado críticas em relação ao modelo, chamando-o de utópico e inatingível.
O presidente-executivo da Tesla, Elon Musk, fez uma piada sobre o assunto no Twitter em dezembro de 2021. Ele escreveu: “Alguém viu a Web3? Não consigo encontrá-la”. Em resposta, o CEO da Block (antiga Square) escreveu: “Em algum lugar entre o A e o Z”, referindo-se à falta de concretização das propostas feitas pelo modelo.
O fundador da Signal, Matthew Rosenfeld (conhecido no Twitter como Moxie Marlinspike) também testou alguns aplicativos do novo modelo e chegou a adquirir um NFT na OpenSea. Contudo, seu NFT foi banido e ele alertou que a Web3 não é tão descentralizada e segura assim.
Primeiramente, é preciso lembrar que a descentralização promove mais liberdade aos usuários, mas também facilita a propagação de notícias falsas, desinformação e conteúdos maliciosos.
Em segundo lugar, a navegação no sistema novo é difícil para os mais leigos e demandaria um longo tempo de aprendizado para os internautas comuns. E, por último, a necessidade de pagar pelos serviços em criptomoedas pode ser caro e pouco atrativo para muitas pessoas.
Conclusão
Agora você já sabe o que é a Web3, como ela funciona e como ela pode mudar a forma como lidamos com a internet no futuro. Se você quiser acessar algumas plataformas adaptadas a esse novo modelo, dê uma olhada nesses aplicativos. E já que você está aqui, que tal se cadastrar na Revelo para conseguir uma vaga de emprego em Tech? É rápido e gratuito. Cadastre-se aqui!